Entenda qual “chapéu” você está usando.


Entenda qual “chapéu” você está usando.

Quando falamos sobre como o auto- desenvolvimento é condição essencial para o bom desempenho do executivo e da empresa, não podemos deixar de fora a compreensão dos diferentes papéis que representamos no dia a dia. Para cada um, vestimos um “chapéu”, a última âncora das competências pessoais apresentadas nesta coluna.

Estamos, ou deveríamos estar, todos no mesmo barco quando participamos de uma empresa - seja como líderes, liderados ou colegas. Somos cidadãos de um mesmo país, pertencemos a um mesmo grupo social ou afetivo e todos exercemos, como indivíduos, nossos vários papéis: pai, mãe, filho(a), amigo(a), marido, esposa ou parceiro(a). Certamente temos ideologias diversas e, por vezes, objetivos até opostos, especialmente quando se analisam diferentes correntes políticas. Seria ingenuidade desconsiderar isso. No entanto, mesmo que para cada um dos papéis que representamos usemos um chapéu diferente, nem sempre eles são consistentes como deveriam com os valores fundamentais do protagonista.

Essa variedade de papéis e a complexa rede de nossos relacionamentos exigem cada vez mais a consciência do enredo de cada situação e da contingência que o envolve. Em alguns momentos somos “reis” ou “rainhas” e temos de vestir a nossa coroa; em outros, com um boné ou boina representamos adequadamente nosso papel.

Isso considerado, vale o alerta: antes de abordar determinada pessoa observe qual é, mais exatamente, o seu papel na situação apresentada e certifique-se de que o chapéu que você está usando é apropriado. Pergunte-se: esse chapéu é legítimo?; o outro irá reconhecê-lo?; cabe a mim usá-lo, ou mesmo exercer esse papel?; ele está consistente com os valores que afirmo ter?

O poder, especialmente dos cargos, é por definição provisório, por mais que os poderosos não queiram acreditar nisso. O perigo está em achar que seu chapéu é você! E esse ponto merece muita atenção: a sua “coroa de rei” pode ser passada para outra pessoa. De um momento para outro, ela não mais lhe pertence ou o uso dela mudou de significado ao longo do tempo e você se vê obrigado a se adequar à nova situação. Se ficou preso aos papéis antigos, sujeitou-se ao risco de misturar a sua identidade com o cargo. Esse risco é grande e real: uma pesquisa feita nos Estados Unidos anos atrás revelou que homens que estão no topo da mepresa ao se aposentar não têm outras causas relevantes a que se dedicar e morrer em 11 meses em média. Atenção!

Também há uma situação de perigo quando quem está no poder se cerca de amigos que, por razões diversas, não conseguem lhe dizer a verdade. Se as lógicas dos chapéus se misturam, o conflito de interesses se manifesta. Nesse cenário, a consciência do chapéu é uma competência fundamental. Ela permite o exercício do poder da liderança na medida correta.

Necessário ressaltar que não se deve usar chapéu alheio - por exemplo, como meio de fugir da responsabilidade pelos próprios atos. Vestir um chapéu que não lhe pertence para justificar atitudes desonestas leva ao círculo vicioso da teatralidade. O medo de ser desmascarado alimenta a farsa, que se renova para que o fingimento não venha à tona. Esse processo vicioso gera estresse, consumindo tempo e energia que deveriam ser direcionados à realização dos resultados empresariais, que acabam relegados a segundo plano.

Saber usar diferentes chapéus para representar os vários papéis que temos na vida não significa valer-se de um “teatro” para fugir das responsabilidades. A intencionalidade, maneira como nos posicionamos diante do mundo, dá o tom da representação de papéis. Quando a intencionalidade é negativa, a farsa se torna desenfreada, motivada pelo desejo de manter as aparências e evitar o desmascaramento das más intenções. Essa sombra na representação de papéis é combatida com o diálogo franco e a consciência de que a cultura exige um chapéu adequado para cada ocasião, tendo em vista os contratos estabelecidos, os seus fins e os direitos e deveres deles decorrentes.

Criar uma cultura organizacional de respeito aos papéis, geralmente estabelecidos nos contratos psicológicos e nas formalidades de um bom processo de governança e compliance, é preparar a empresa para favorecer-se do clima de confiança.

O ano já está terminando. É hora de estar ainda mais atento aos seus papéis. Use o chapéu correto para cada um deles -essa já pode ser uma dica para 2020. Esse cuidado tornará sua vida mais leve e melhor!




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