Quantidade X Qualidade

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Durante uma palestra ouvi de Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna, uma frase que nunca saiu da minha cabeça:

- Na questão educacional, o governo jamais conseguiu combinar qualidade com quantidade.

Tive acesso a um trabalho da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, que parece confirmar a tese. Eles cruzaram o Ideb - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, usado pelo Ministério da Educação para avaliar a qualidade do ensino, com o PIB - Produto Interno Bruto per capita dos 159 municípios brasileiros com mais de 150 mil habitantes.

E ao comparar o município paulista de Barueri que é o primeiro colocado no ranking do PIB per capita com R$ 100 mil por habitante/ano, com a cidade de Sobral, no sertão do Ceará, em 114º. lugar, com menos de R$ 10 mil por habitante/ano, coisas curiosas surgiram.

Sobral tem cerca de 35 mil estudantes e um orçamento anual para a educação de R$ 60 milhões, correspondendo a R$ 1.714 por aluno/ano. Barueri tem 60 mil estudantes e orçamento de R$ 500 milhões, o que dá R$ 8.333 por aluno/ano.

Partindo da mesma nota 4,5 no Ideb em 2005, a comparação entre as duas cidades fica intrigante. Sobral evoluiu para 6,6! Das 39 escolas que participaram do último Ideb, 38 tiveram nota acima de seis, feito alcançado por apenas 6% das escolas brasileiras. Barueri evoluiu para 5,4.

Onde está o segredo para a humilde Sobral ultrapassar a milionária Barueri?

O governo de Sobral é PT e o de Barueri é PMDB. Estão do mesmo lado, eliminando a tese de manipulação política da informação. Também achei que a comparação seria descabida, mas ambos os municípios partiram da mesma nota, tem entre 24 e 26% da população em idade escolar e o mesmo critério de medição do Ideb. Uma matéria da revista Isto É ajuda a entender.

Especialistas do Capes estudam Sobral para entender as razões desse avanço e encontrar uma forma de replicar esse sucesso a outros municípios. No município, além das medidas tradicionais, há uma formação continuada de professores com material de apoio complementar, os diretores de escolas não são indicações políticas e os professores tem bonificação direta conforme o rendimento da turma. Ah, e o Secretário de Educação tem autonomia para executar o orçamento.

Enquanto isso, em Barueri o controle do orçamento é da Secretaria de Finanças e a capacidade de gestão eficiente da educação é assombrada por uma curiosa coincidência: o Secretário da Educação é o irmão do prefeito. É claro que essas diferenças, por si só, não querem dizer muito, mas demonstram que o problema educacional brasileiro parece não ser falta de dinheiro, mas de competência gerencial.

O que ainda angustia é saber que dos 5564 municípios brasileiros, apenas 300 podem se orgulhar de apresentar os resultados como Sobral.

Quantidade x qualidade. Até quando?

Luciano Pires

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Luciano brasileiro que, embora tivesse como objetivo ser um cartunista, foi por 26 anos executivo de marketing de uma grande multinacional de autopeças, com experiencia de trabalho no Brasil, America do Sul e Estados Unidos.

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