Reinaldo Polito

São Paulo/SP
Veja o Perfil Completo

Reinaldo Polito

Pós-graduado com especialização em Comunicação Social pela Fundação Cásper Líbero, em Administração Financeira pela F.G.V. e em Administração Financeira pela Faculdade de Ciências Econômicas de São Paulo.


Artigos


Aprenda a guardar o nome das pessoas
No mundo da tecnologia, a regra é falar com objetividade
Você é o famoso quem?

Você é o famoso quem?


Talvez não exista nada pior que ser apresentado ao público por gente que, por erro ou incompetência, mete os pés pelas mãos. O risco de encontrarmos apresentadores que nos deixam em posição desconfortável diante da platéia precisa ser considerado com cuidado e atenção.

Fui contratado por uma empresa multinacional para proferir palestra aos seus executivos sobre como falar em público. Até aí nada de novo, pois essa é uma das minhas atividades regulares.

Entretanto, a experiência de décadas cometendo alguns erros me ensinou que o sucesso de um evento está diretamente associado ao seu bom planejamento. Por isso, assim como ocorreu nessa palestra, procuro ser bastante criterioso no esclarecimento dos detalhes que cercam a minha participação. Tudo preto no branco para não ficar nenhuma dúvida.

Cheguei ao local da palestra com bastante antecedência e percebi que os responsáveis pelo evento estavam ansiosos. Disseram-me que as atividades que antecederam a minha apresentação foram antecipadas e que ficaram aliviados pelo fato de eu ter chegado mais cedo. Assim poderiam dar seqüência ao evento sem interrupções.

Ocorre que eles estavam tão preocupados em manter o ritmo da programação que, enquanto distribuíam uma complexa pesquisa para os mais de cem ouvintes responderem, o mestre de cerimônias se adiantou e fez a minha apresentação.

Foi um desastre. Embora eu tenha tido o cuidado de enviar meus dados atualizados, o currículo que ele leu estava defasado pelo menos uns dez anos. O que também não teve conseqüências, já que ninguém prestou atenção em nem uma palavra sequer! Mantiveram-se concentrados na pesquisa o tempo todo de cabeça baixa.

Após ter sido apresentado, eu não tinha outra opção a não ser ir até ao palco e iniciar a palestra. Cumprimentei a platéia de maneira entusiasmada, até para chamar a atenção dos ouvintes que continuavam respondendo à pesquisa.

Mas qual o quê, ninguém se preocupou em levantar a cabeça para ver quem estava falando. Continuei mais um tempo em silêncio, sorrindo para ver se me davam atenção, entretanto nada os retirava daquela tarefa.

Plano B. Bati em retirada. Como não adiantava falar diante de pessoas que ainda não estavam prontas para ouvir, comentei que esperaria mais alguns minutos até que terminassem de responder à pesquisa e que em seguida iniciaríamos. Desconfio que nem essa explicação eles ouviram. Saí do palco e aguardei até que encerrassem aquela atividade. A essa altura, minha adrenalina já estava fervendo.

Ao retornar, eu precisava motivar o grupo e despertar o interesse dos ouvintes logo no início. Também não podia deixar de fazer algum tipo de comentário sobre o que havia ocorrido.

Procurei me manter o mais calmo possível e tentei uma brincadeira. Eu disse que resolvera só iniciar quando todos já tivessem respondido à pesquisa porque queria que acompanhassem atentamente uma piada que programara para começar. Sucesso! Todos riram. Diante daquela reação, fiquei corajoso e emendei: a piada era essa. E não é que funcionou de novo!

Com a minha saída do palco naquele primeiro momento em que ninguém prestava atenção em mim e o uso de um fato bem-humorado, aproveitando a circunstância do próprio ambiente, resolvi um episódio que poderia ter jogado por terra toda a minha palestra.

A história serve para alertá-lo que, por mais preparado que você esteja e por mais que tenha planejado os detalhes de uma apresentação, ou de um evento, sempre haverá o risco de que algo errado possa ocorrer. Nessas circunstâncias, precisamos estar atentos para encontrar saídas de emergência que nos permitam contornar os obstáculos. Quanto mais calmos nos mantivermos, maiores serão as chances de sucesso.

Essa não foi a primeira vez em que me vi metido numa saia justa por causa de falhas cometidas por organizadores de eventos.

Quando o IOB publicou minha obra “Técnicas e Segredos para Falar Bem” (cujos direitos de publicação foram adquiridos depois pela Editora Saraiva), programamos um plano de palestras para eu me apresentar em todas as capitais do país.

Iniciei pelo Rio de Janeiro diante de uma platéia com mais de mil pessoas. Desde aquela época eu tomo todo o cuidado para que tudo seja realizado sem contratempos. Assim que cheguei ao local do evento, como sempre faço, chequei se todos os itens haviam sido preparados para o bom resultado da apresentação: equipamentos, fios de extensão, voltagem da eletricidade, posição da tela, tipo de microfone, enfim, se o auditório estava pronto para ser usado.

Testei o som, o aparelho de projeção, e andei sobre o palco para observar até que ponto poderia locomover-me sem atrapalhar a visão da platéia quando os visuais fossem projetados. Confirmei que estava tudo em ordem.

De acordo com a minha lista, faltava checar um último item -quem me apresentaria? O responsável pelo evento me tranqüilizou dizendo que havia cuidado pessoalmente dessa questão e incumbira um importante político para fazer a apresentação. Disse também que ele já estava com meu currículo, só aguardando o início do evento.

Para meu desespero, esse tal político não se preocupou em ler meu currículo e estava totalmente desinformado. Não tinha a mínima idéia de quem eu era e qual seria o assunto da minha palestra. Resolvera aceitar a tarefa de me apresentar apenas para poder falar e aparecer diante daquela platéia lotada.

Nunca presenciei uma apresentação tão ruim em toda minha vida. Não acertou um dado sequer. Disse que a palestra seria motivacional e que o grande palestrante, conhecido em todo o território nacional (exceto por ele, que talvez não soubesse nem onde ficava sua própria casa), era o professor Alfredo Hipólito.

Diante daquele público numeroso, fiquei com vontade de iniciar a palestra dizendo que Alfredo Hipólito era a avó dele, mas tive de reprimir essa atitude de forma resignada.

É sensato não brigar com um apresentador que atravessa o sinal e troca o tema da palestra ou erra na pronúncia do seu nome. Quase sempre, ele pertence àquela comunidade e, se foi encarregado de fazer sua apresentação, não é difícil deduzir que provavelmente tem representatividade no grupo.

Por isso, mantenha-se calmo e não arrume confusão com ele. Saiba que o desconforto nessas circunstâncias é seu e que o público, embora possa estranhar as informações passadas pelo apresentador, na realidade está ali para ouvir sua palestra.

Mesmo chateado, consegui manter o equilíbrio e contornar aquele momento de constrangimento. Olhei na direção do político que acabara de me apresentar, agradeci às suas palavras e fiz um elogio sincero à voz bonita que ele tinha. Realmente era uma voz de barítono, sonora e bastante melodiosa.

Em seguida, contei um fato verdadeiro que acabara de acontecer comigo. Disse que há poucas semanas, ao fazer uma palestra em Recife, o organizador do evento havia comentado que ao receber o programa e ler o meu nome não se cansava de dizer para si mesmo: “Polito, Polito, eta nominho esquisito. Mas, por ser estranho, jamais irei me esquecer do nome desse palestrante, Reinaldo Polito”. Deu certo. Fiz o comentário a respeito do sobrenome e, de passagem, corrigi também o nome. Com o problema superado, pude me concentrar apenas na minha palestra.

Esses exemplos mostram que você precisa ficar atento a todos os detalhes que cercam sua apresentação. Deve cobrar a ação dos responsáveis pelo evento. E mais, estar pronto para planos de emergência caso surjam imprevistos.

Mande-nos uma Mensagem