André Kfouri

São Paulo/SP
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André Kfouri

André Kfouri, é jornalista. Começou sua carreira na rádio Jovem Pan. Desde 95, é repórter da ESPN Brasil. Desde junho de 2009, é âncora do SportsCenter, segunda edição, na emissora. No LANCE!, assina três colunas semanais, publicadas às segundas-feiras, quintas-feiras e aos sábados.


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O árbitro francês que censurou Neymar por tentar um drible de efeito deveria ser disciplinado. E não interessa que o jogador em questão é o astro brasileiro cujos dribles são divididos em “válidos, com objetivo” e “desnecessários, para humilhar”. Nenhum futebolista deveria ser advertido por driblar, ao menos até o dia em que os psiquiatras do drible convençam o International Board a incluir na regra do jogo o que é permitido e o que não é. Enquanto isso, não é atribuição da arbitragem de futebol moderar o comportamento de quem tem habilidade para superar marcadores, seja qual for a – aparente – intenção.

O problema se agrava quando é acionada a demagogia da “proteção à integridade física” do driblador, nada mais do que uma desculpa para que árbitros extrapolem suas funções e atuem como bedéis em campo. Beira o ridículo. “Veja, Neymar, se você continuar com isso, alguém pode se irritar e te quebrar…”. Como se Neymar não conhecesse intimamente os riscos e já não tivesse sofrido as consequências por jogar futebol desse jeito. Não significa que esteja certo ou que deva ser estimulado. Não significa que não seja o caso de conversar com ele. Mas essa tarefa é para companheiros, técnicos, amigos… não para árbitros, que estão ali para punir o uso de violência, não para prever se alguém perderá o controle e se arriscará a ser expulso.

Neymar mereceu o cartão amarelo pela forma agressiva como reagiu. Este comportamento, sim, está em desacordo com a regra. Mas é necessário questionar a atuação do árbitro, que provocou a reação ao sair de seu caminho. É curioso que alguém que alega agir para administrar a temperatura da partida faça exatamente o contrário ao irritar um jogador que tentou… driblar. A linha do tempo do futebol está repleta de figuras que driblavam para trás, para o lado, que driblavam para a frente e esperavam o adversário se recuperar para fintá-lo de novo. Tentativas de identificar o “drible de bem” e apresentá-lo como exemplo do que é correto são futilidades que jamais serão aceitas pelo jogo, em especial quando se trata de virtuosos que se expressam em campo por intermédio de suas habilidades individuais.

Talvez valha a pena perguntar se a criminalização do drible não é um sinal de aversão ao futebol, ou ao menos de ignorância a respeito dos mecanismos de profilaxia que o próprio jogo criou. Dribladores abusados sempre tiveram de lidar com zagueiros impacientes, numa relação de sobrevivência em campo que, parafraseado Vanderlei Luxemburgo, pertence ao futebol. A obrigação de árbitros não é prevenir esse encontro, mas garantir que ele se dará conforme o que as regras determinam. Ao cercear Neymar por uma tentativa de carretilha no fim de semana, o árbitro impôs limites ao jeito de jogar de um futebolista como se a partida lhe pertencesse. Se são os efeitos da era da vaidade doentia, convém lembrar que ninguém vai ao estádio ou liga a televisão para ver árbitros em ação. De fato, a maior prova de uma atuação impecável se dá quando não são notados.

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